Tem gente que sabe muito bem como a
nossa própria mente é capaz de nos desestabilizar.
Não tente fazer esse “truque”, mas
se você mentalizar algo autodestrutivo pode conseguir causar em si mesmo uma
claustrofobia súbita durante uma média ou longa viagem de ônibus, trem ou avião.
Mas como manter a mente sempre
tranquila, se ela não é fixa nem constante? Precisamos estar em paz para que
pensamentos equivocados não nos destruam.
Bom mesmo é quando estamos tão
confiantes e conscientes a ponto de simplesmente não darmos chances a nossas
mentes de nos sabotarem.
Nem sempre estamos calmos e
confiantes, mas geralmente uma respiração longa e pausada consegue aliviar
nossa tensão.
Em certas situações, porém, não há
mente limpa, consciência tranquila ou confiança que resista. Em casos assim temos de apelar para a tecnologia de ponta.
Por exemplo... Em geral, as mães
dizem aos filhos: “Não coloque o cotovelo na mesa quando estiver comendo,
porque é falta de educação”. Pois é... Mas poderiam também dizer: “Não coloque
o cotovelo no braço da poltrona quando estiver no ônibus, trem ou avião, pois isto
pode incomodar quem estiver sentado a seu lado...”. Simples assim... Mas elas
não dizem isto...
Vejam o caso do meu amigo Pardal...
Após um dia cansativo ele entrou no ônibus disposto a descansar. Era uma viagem
demorada em um daqueles ônibus confortáveis, com ar condicionado, poltrona
reclinável, mas com um ínfimo braço para separar as poltronas.
Estava ele começando a relaxar
quando o cotovelo de seu vizinho de poltrona, um indivíduo com o qual ele não
tinha a menor relação fraterna, afetiva, comercial ou corriqueira, veio se
aproximando até acertar seu braço. O dono do cotovelo deve ser daqueles que
pensam: “Cheguei primeiro, tenho direito de colocar meu braço aqui...”
Em casos assim não adianta tentar
argumentar, pois só a tecnologia pode nos salvar.
Pardal então pediu licença. O cara
ao lado olhou com cara de raivinha, mas tirou seu cotovelo pelo instante
suficiente para que Pardal colocasse seu invento no braço da poltrona. Era um
pequeno apetrecho do tamanho de uma caneta. Ao ser acionado, ele se desdobrou e
abriu um arco que ia da parte de trás do banco até o chão, separando de uma vez
por todas as duas poltronas. “Finalmente paz”, pensou Pardal... O indivíduo
ficou do outro lado bradando aos sete ventos toda a sua carência afetiva: “Quero
contato... Quero interagir... Não me deixem só...”.
Acontece que em geral o incômodo não
vem de um lugar apenas... Na poltrona de trás vez por outra senta alguém que
acha que seu joelhinho é a coisa mais fofa, macia e delicada da face da Terra. E
eis então que dois joelhos nada meigos vêm pressionar o banco e forçar
diretamente suas costas...
Quem poderá nos salvar? O Chapolim
Colorado? Nãããããão... O bom senso? Nãããããão... E bom senso por acaso existe ou
seria apenas mais uma lenda urbana? A tecnologia? Siiiiiim... Pelo menos no
caso do brilhante Pardal. Ele então pegou mais um de seus inventos e colocou
sobre o encosto da sua própria poltrona. Do invento saiu um pêndulo que com
movimentos constantes e uma bola de chumbo na ponta ia e vinha justamente atrás
da poltrona ocupada por Pardal. Quando aquela bola de chumbo acertava um joelho
desavisado era um terror... Haja dor...
Na verdade, a versão original do
invento trazia uma ponta cortante pendurada ao pêndulo. Mas era algo meio
cruel.
Faltava ainda, porém, pelo menos
mais um invento... Aquele que nos livraria dos que querem fazer de meios de
transporte coletivos a continuidade de seus escritórios e saem a contar
lamúrias, vender produtos e serviços ou explicar processos jurídicos pelo
telefone celular. Felizmente em aviões, pelo menos em voos domésticos, isto não
é problema, mas em ônibus beira o insuportável... Mas o que funcionaria melhor
nesse caso? Bloquear o sinal? Explodir o celular após 2 minutos de uso? Mas
enquanto nada disso foi ainda inventado, resta-nos ao menos o fone de ouvido para
combater a poluição sonora... Ufa!
...